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CAMPO & CIDADE

Doutor Pedrinho - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Professor Antonio Girardi, eis um mestre de bem com a vida. Na pequena chácara encravada nas cercanias de Doutor Pedrinho, após merecida aposentadoria apegou-se à meliponicultura. Sim, a criação de abelhas sem ferrão. E outras atratividades próprias de recanto paradisíaco. Ousa compartilhá-la, virtude própria de todo o bom sitiante.

E com que vitalidade apresenta as colmeias. Uma a uma. Dezenas delas. Espécies diversas, todas com nomes indígenas, faz questão de ressaltar. Se mirim é porque são pequenas. Açú, maiores. As identifica pelo portal de entrada. Algumas com portinholas miúdas, outras camufladas. A tuba engendra bocal alargado, lembra instrumento musical.

Caíram na graça dos consumidores, pois acima de tudo prestam-se à farmácia caseira. Prevenção e curas de doenças. Poderoso tônico. Embora em pleno inverno, abre uma melgueira. Envelopes cheinhos de mel. Provamos. Nos inquiri? Qual o sabor? Laranja, saca Bagio; limão, dispara Marcos; xinxim pondero. Ninguém acerta. Cítricos, cítricos vocifera, gesticulando. Italianice à vista, emenda: sabor e aroma dependem da flora.

A casa do mel não nega: processa segundo as normas da vigilância. Africanas, algumas colmeias de abelhas africanas por ali. Da coleta do pólen à produção de mel, distingue etapas. Quando estão de guarda tornam-se agressivas; no mais atém-se a tarefas: produção de cera e coleta de pólen, as mais relevantes.

Não se contenta apenas com as abelhas o mestre. Faz questão de apresentar um lote de galinhas caipiras. Cacarejam faceiras as aves. As folhas recolhidas no quintal e alamedas, dejetos de aves e ovelhas, devidamente compostados, adubo de primeira.

Quanto às ovelhas um segredo: ao pastorear, aparam o gramado, dispensam roçadas, por isso, as trata como amigas. Nada de abatê-las. Olhem: aponta gerivas. Vários gerivas espalhados aleatoriamente. Emenda: quando caem os frutos as ovelhas se fartam, e à noite no aprisco, defecam-nos. Dispensam, portanto, o trabalho de catá-los. E as aves então, controlam a infernal tiririca. Bicam as folhas e as batatas afloram, sendo assim consumidas. Isso é que é ecologia reverbera: associação de animal com vegetal. Conserva o tino de professor, compartilha conhecimento através de aulas de educação ambiental. E mudas, muitas mudas por ali de Ipê, azaleias e astrapeias, a última uma melífera formidável, com floradas abundantes o ano inteiro.

Por fim, apresenta um banner, croqui da propriedade. Ano do início de tudo: 1985, área praticamente desnuda. Chagas expostas. As curvas do velho leito rio retificado, nada mais. Mas eis a boa nova: 2013, a área restaurada. Vegetação ciliar recuperada. Exuberante. Bosques arejados. A música Meu Sítio, Meu Paraíso me salta aos olhos.

Na condição de quem também já foi prefeito de Doutor Pedrinho, nos dá uma lição de integração com a natureza o mestre Antonio. Zeloso, tudo ausculta, tudo espreita. Realiza. Cita seu Pai que considerava o sítio um paraíso. Mas ousa mais: - agora que o velho se foi, e diante da pandemia, não vacila: aqui, aqui é um pedacinho do céu na terra.

 Doutor Pedrinho, sem dúvida, é um singelo lugarejo. Gente acolhedora. Simpática. Bagio, técnico local da Epagri, ressalta: 70% do território é coberto de vegetação. A vocação turística aflora. Cascata primorosas não faltam. Salto Donner, Salto Alto Capivari, Cachoeira Véu da Noiva. E o tesouro: a Reserva Biológica Estadual do Sassafrás.

Situada num platô a 550 metros de altitude, cortada pelos rios Forcação e Benedito Novo e rodeada de serras alcantiladas, esbanja vitalidade a boa terra. Mais ao alto a serra da Moema, pico de 1200 metros de altitude. 


Uma curiosidade: a denominação do município deve-se a Aderbal Ramos da Silva, governador de Santa Catarina. Forma singela de homenagear o pai, Pedro Ramos.

 O asfaltamento da Rodovia SC 112 interligando o município ao planalto norte, deu nova dinâmica à região. Descoberta pelos turísticas, tornou-se ponto de concorridas visitas. Polo turístico. Finais de semana agitados, pondera Bagio.

Portanto, ao ciclo da madeira e das lavouras, emerge nova fase: o turismo como fator de desenvolvimento local. Fazê-lo com sustentabilidade, certamente um senhor desafio.

A região como um todo é rica em atratividades, a começar por Pomerode, a mais alemã das cidades brasileiras. E Timbó, a bela Timbó. E Benedito Novo. E Rios dos Cedros com suas encantadoras barragens. E as pousadas, então.

A visita tinha por escopo acompanhar trabalhos da extensão rural no município, especialmente unidades de referência técnica em florestamentos, mas não há como não se regozijar com paisagem tão singular. Frescor de matas. Gorjear de aves silvestres. Gargantas de serras.

Ao retorno, grata surpresa: a SC-112 moderna rodovia - subida de serra rumo a Rio Negrinho, um elixir, um privilégio, e porque não uma benção divina. Alvissarás Doutor Pedrinho! Alvissaras brava gente pedrinhense!

                                                                               Doutor Pedrinho, 29 de julho de 2021


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